sexta-feira, maio 19, 2006

Aos Educadores da Minha Curta Vida

Posso não ter vivido muito nem saber muita coisa, mas tenho a certeza que é o que sei que me define.
O que sei, o que descubro procurando e não...
Não é todos os dias porque nem faria sentido, mas por vezes acabo a pensar no profundo agradecimento que devo aos educadores da minha vida. Não só aos que recordo com carinho mas também aos que odiei. Não só aos que me ensinaram a forma correcta de fazer mas também aos que me fizeram sentir a injustiça de fazer mal (pelos vistos até maus educadores são precisos!).

Que dizer da Professora Maria José, que na inocência da Primária, se encantava com dois versos mal emparelhados ou um ponto de cruz sem muito jeito? E da dedicação da Professora Manuela Murargi, Adélia e Maria Antonieta que, no ciclo, entre números, cor e letras, me mostraram como trabalhar custa mas recompensa? As Prof.a Conceição Cipriano e Fátima Seiça (da Cláudia finalista da EB), a Prof.a Susana Varela e as actuais Terezinha Silva e Alcina Neves que são modelos que admiro por aliarem a competência académica à componente humana - penitenciando-me desde já por aquelas de que me esqueci (agora que reparo a Matemática e o Português representam mais de metade das prof.as mencionadas, não sendo nenhuma das duas as disciplinas de que mais gosto...); a Cristina Marques e a Ana Rute, também o Pedro, pela formação mais que desportiva - pela dor que sempre quiseram ensinar-me a superar; a mãe e o pai, a Maria e o Quim, como não podia deixar de ser, por todos os valores incutidos e discussões provocadas em 18 anos (além do óbvio sustento da educação em si)... são tudo pessoas que mesmo que chegue o dia em que não mais me lembro dos seus nomes, vão permanecer na forma como existo e influencio os que me rodeiam.

Tudo isto para chegar à conclusão que é pela educação que o Mundo vai mudar. Os jovens e as crianças são como pedaços de argila por moldar, à mercê de pais, professores, amigos, treinadores... Por isso é tão importante que estes nunca desistam de ver o mundo mudar e ser melhor... Porque é por eles que a esperança tem de ser restituida aos mais novos... Esses que ou acham que as coisas estão mal e vão continuar assim porque somos perdedores por natureza ou que acham que as coisas estão mal mas não os afectam porque têm dinheiro para todos os pares de ténis, PC's, iPods, concertos, carros e viagens que lhes apetecer.

Um educador não se pode dar ao luxo de se sentir deprimido! Se o é com responsabilidade sabe que é nas suas mãos, mais do que nas de qualquer outro, que está a chave, e é na paixão (mais ou menos adormecida) dos jovens que está a fechadura - para sair da crise mundial que atravessa a sociedade hoje em dia.

segunda-feira, maio 01, 2006

Paridade

Muito se tem falado em paridade, ultimamente. Convém informar os menos informados que a Lei da Paridade foi aprovada no dia 20 de Abril pelo Parlamento com 122 votos favoráveis (mais 6 do que os necessários para obter a maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções: 116 de um total de 230) e 96 contra. No entanto, o CDS-PP pediu a intervenção de Cavaco Silva e prometeu já que tentará impugnar a lei por todas as vias.

A Lei da Paridade, da autoria do PS, obriga os partidos a incluir pelo menos um terço de mulheres nas listas para eleições legislativas, autárquicas e europeias. Controverso? Sem dúvida.

Eu assumo-me a favor das quotas a termo provisório - que será tanto mais longo quanto mais tempo demorar a mudar a forma como a nossa sociedadezinha pensa. Reconheço a pertinência e validade de muitos argumentos contra a Lei da Paridade. O "efeito dominó", como já lhe chamaram, merece o meu respeito. De facto o hemiciclo não é representativo da populaçao no que toca aos 2 géneros (em 230 deputados apenas 60 são mulheres -26%) mas também não o é ao nível das diferentes raças e etnias existentes na nossa população, por exemplo, e no entanto esta "característica" não se encontra em discussão. Por outro lado, também não aprovo que um homem mais capaz seja preterido em função de uma mulher que o é menos, simplesmente porque é mulher (embora isto sempre se tenha verificado na função inversa!). Eu própria, como mulher, não me sentiria dignificada se fosse eleita só por ser mulher.

A verdade é que a Lei da Paridade não é a ideal. Ideal seria ter uma sociedade verdadeiramente cega ao género dos candidatos (seja a um emprego ou ao Parlamento). Mas essa sociedade não existe. A mulher não é uma profissional apelativa porque vê cair sobre si grande parte da responsabilidade familiar, por exemplo. Mas toda e qualquer lei serve exactamente para colmatar falhas e equilibrar desiquílibrios sociais.

Por isso mesmo, as quotas mínimas são pertinentes. São necessárias até que a mentalidade da sociedade em geral se modifique. Até que as mulheres em particular compreendam que têm o direito e o dever de participar civicamente. Até que os homens, por seu lado, reconheçam que precisam ter uma participação mais activa no seio familiar e não só profissionalmente. Quando o género deixar verdadeiramente de representar um atributo que influencie escolhas, então as quotas tornar-se-ão obsoletas.

Na conjectura actual, penso, no entanto, que o risco de descriminação que os homens podem eventualmente vir a enfrentar com esta Lei é um mal muitissimo menor que temos de correr para atingir um estado de mais justiça social.