Estou de Luvas e Galochas e o Sol de Dezembro Começa a Parecer Mais Quente

Já chega.

Não há solução, a vida é mesmo assim: feita de angústias, ansiedades, contratempos, reviravoltas, surpresas... Sorrisos e Lágrimas. Alegrias e Dores. Porquê contrariar a natureza de forma tão insolente? Devíamos todos aprender a sofrer as tristezas com a mesma abertura com que vivemos as alegrias. Porque saber viver é tudo isso.

Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. E acho que ser feliz tem de estar acima da efemeridade deste bem e deste mal. Talvez seja isso que ser emocionalmente inteligente, como uma vez me contaram, queira dizer.

Se a felicidade for, como um dia eu imaginei, um grande poço que todos temos mas que vamos enchendo e tapando de desilusões e tristezas até não mais o vermos, então a inteligência está em pegar em cada uma dessas pedras e tirá-las do caminho. Mas como? Provavelmente vai ser preciso calçar galochas e arregaçar as calças, vestir umas luvas de borracha e saltar para dentro do poço entupido. Depois, um a um, conhecer cada problema - todas as suas faces e todos os seus bordos (!) - compreendê-lo e então jogá-lo fora. Tirá-lo do caminho.

Porque só conhecendo cada porção do problema o podemos superar. Exactamente pela mesma razão que ninguém usa uma colher para servir esparguete. Porque o método para realizar uma tarefa depende do conhecimento profundo da natureza dos intervenientes.

Há certas alturas na vida em que o nosso poço está agradavelmente vazio. Mas em menos de nada pode encher e transbordar. Por uns tempos o cansaço há-de impedir-nos de pôr mãos à obra. Mas eventualmente acabamos por encontrar o distanciamento necessário para começar a esvaziar o poço de novo.

Sei que tenho o poço cheio. Mas também sei que já esteve mais cheio do que hoje. E também sei que tenho quem me queira ajudar a esvaziá-lo.

Estou de luvas e galochas e o Sol de Dezembro começa a parecer mais quente.