quinta-feira, dezembro 21, 2006

Patinar... Sempre a Patinar...

Odeio que anoiteça às cinco e meia da tarde. Fica-se com aquela sensação muito desconfortável de que o dia já acabou e ainda não fizemos quase nada quando na verdade ainda vamos a meio da tarde!...

Hoje acordei enjoada com o mundo.
Recriminei-me por dormir até às onze e meia, apesar de ter sido o primeiro dia de férias em que o pude fazer.
Senti-me desconfortável na roupa que vesti por mais que tenha tentado ficar girinha para mim. Talvez esteja um bocadinho gorda. O cabelo hoje está esquisito.
Deparei-me com uma borbulha horrível no nariz (sim porque eu que escapei a qualquer tipo de problema dermatológico quando tinha idade para os ter, agora que tenho quase 19 anos é raro o dia em que não tenho borbulhas e sempre, sempre!, no nariz =x).
Continuou a doer-me a cabeça e a garganta apesar do Brufen que tomei.
Senti-me tentada a faltar ao treino. Porque voltei a não adiantar o trabalho de Biologia Celular que tenho para fazer. Porque voltei a não estudar para o Crédito de Bioquímica de dia 3 de Janeiro.

Ainda bem que não faltei. Agora estou cansada também fisicamente, além do frio que me põe os lábios gretados e o nariz gelado. Os dramas do dia mantém-se, aos quais se somou a dor no cotovelo que já estava magoado e que agora está mais ainda. Mas eu estou mais tranquila. Descarreguei alguma energia. Senti-me bem só por patinar bem para mim.

Sim, se há algo em mim que nos últimos tempos merece o meu reconhecimento é o quanto cresci na patinagem.

Ainda me lembro de ser pequena e vir das provas sem dar qualquer valor ao lugar que conseguia, sem saber quem estava ao meu lado no pódio (quando ficava no pódio), sem ter a noção se fazia ou não o mesmo que nos treinos, mas com uma grande barrigada de jogos de escondidas e apanhadas pelos pavilhoes e as inerentes pinturas, penteados e fatos para fazer as provas e os almoços de equipa.

Com os meus 12 aninhos deixou de ser assim, coincidindo assim, para surpresa de ninguém, com a primeira ida à selecção. Tudo ficou muito mais complicado. Passei a ser uma atleta muito trabalhadora e até promissora mas que falhava muito em prova e que não sabia controlar os nervos nem lidar com o ambiente de selecção. Há 3 anos deixei de ser chamada. A primeira vez que fiquei de fora foi a maior injustiça de que já fui vítima. Simplesmente porque foi o campeonato nacional em que alcancei todos os meus objectivos: ganhei a prova de Figuras Obrigatórias e fiquei em 2o em Patinagem Livre, sendo que não ambicionava realisticamente ganhar à Marta Ferreira que ficou em 1o, como todos sabem. Foi nestas condições que fui deixada para trás - os motivos não vou sequer procurar referi-los. Sei que não fui nesse ano nem no seguinte, que foi sem dúvida a minha pior prestação nacional desde sempre, nem no seguinte, que foi este ano em que nem pude competir por estar lesionada.

Não ir à selecção foi duro. Mas fez-me repensar muitas coisas. Ao contrário de muita gente eu continuo a patinar ao fim destes 3 anos e estou igualmente motivada todos os dias. Continuo a querer fazer melhor as coisas por mais que já não tenha tanto tempo ou ande mais cansada às vezes. Continuo a gostar de me arranjar para uma prova e de ser bonita a patinar. Se continuo é porque isto significa algo mais do que o sucesso em prova ou a selecção não é? Admito que quero sempre ser bem sucedida em prova e que tenho sempre esperança de voltar à selecção. Mas embora seja um objectivo não é o único nem o mais importante. Adquiri a maturidade para perceber que a patinagem me faz bem quando estou em baixo. O simples acto de patinar faz-me bem e é algo que é só meu e mais ninguém pode ver nem sentir.

Sou das mais velhinhas. Cheguei a esse posto. E esse posto chegou mais depressa do que imaginava. Agora olho à volta e sei que há quem me tenha por exemplo. E é uma responsabilidade que tenho com todo o gosto. Sabe muito bem poder ensinar algo aos outros e na patinagem eu tenho bem presentes os valores que quero passar a quem me quiser ouvir. Eu atravessei uma fase em que a Patinagem era a minha vida. Em que falhar significava quase o mesmo que ficar muito doente. Em que patinava para os outros e muito pouco para mim. Gostava muito de explicar às pessoas que esse é o pior caminho. Que por mais que seja bom fazer um duplo axel numa prova para ouvir aplausos, é muito melhor sentir que podemos fazê-lo num dia como o de hoje em que acordei enjoada com o mundo.

Que todos tenham algo como a minha patinagem no dia-à-dia das vossas vidas!**


(Um grande beijinho para a Inês, a Rita, o Sebastião e a Laura por uma viagem muito, muito, divertirda a Múrcia para ver o Campeonato do Mundo. =) *)

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