segunda-feira, abril 02, 2007

O Vigesimo Mes De Março Que Vejo Chegar ao Fim

É o vigésimo mês de Março que vejo chegar ao fim. Entro na Primavera pela vigésima vez. E é incrível como todas me parecem iguais, todas me sabem ao mesmo.

Pergunto-me: se vivêssemos num mundo sem espelhos nem máquinas fotográficas, como sentiríamos o mundo mudar? Porque quanto a mim é quando olho para as fotografias e comparo com o espelho que me apercebo que uma primavera não tem nada a ver com a outra.
É extenuante detectar nos meus olhos do passado os sonhos que os meus olhos do presente já esqueceram ou continuam a guardar.

Parece que 20 anos passaram num instante e no entanto aconteceu tanto. Sou uma estranha até para a Cláudia que entrou na faculdade... E muito mais estranha para a Cláudia que ia aos estágios da selecção...
Ás vezes pergunto-me o que diriam essas outras Cláudias do passado da Cláudia que o espelho me devolve. Muitas não me imaginariam na Faculdade de Medicina, outras tantas estariam desiludidas por não ter sido mais na Patinagem, mas todas se sentiriam orgulhosas da forma como penso e intervenho no mundo, da forma como sinto e abraço os meus amigos, da forma como me empenho num estudo de que gosto, da forma forte como tenho enfrentado a dor e a desilusão... da forma como sorrio e acredito.

Sim, por mais que as fotografias me lembrem dos sonhos que não consegui realizar ou de que abdiquei, por mais que me tentem a querer voltar atrás... sei que também esta vigésima primavera vai ser um dia – não daqui por muito tempo – a de mais uma Cláudia estranha. E o que pensou ela? – pensarei eu que não serei o “eu” de agora mas o “eu” de então - O que penso? Que sabe bem e mal recordar o passado, mas que acabo inevitavelmente por fazê-lo. E que vai ser, inevitavelmente, sempre assim.
Decido admitir que é natural ir abandonando sonhos e criando novos – mais ou menos como os cortes de cabelo que umas vezes queremos voltar a ter e outras nem acreditamos que alguma vez tivemos.

Talvez o importante seja Viver, construindo um passado que saiba mais bem que mal recordar, não?...

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