quinta-feira, novembro 29, 2007

Imaterial, indescritível, inigualável e insubstituível


Imaterial, indescritível, inigualável e insubstituível.

Desde que nasci que não sou só eu porque já antes de nascer e antes de ser eu, era tu. Já antes de existir, existia em ti, existias tu e eu – uma só.

Desde então que nunca fui (eu) só. Em mim e a meu lado, continuamos a existir em conjunto. E a experiência de uma que cada vez é menos maior que a da outra e as experiências das duas que das duas se tornam, dá a toda esta existência uma cor e um movimento exuberantes mesmo nos momentos mais taciturnos.

És uma casa onde regressar em todas as ocasiões. Uma casa onde o meu espaço está sempre à espera de ser preenchido, embora nunca esteja vazia.

És uma força sem limites mesmo quando não a tens.

És um momento de descanso num dia de arromba.

És um bálsamo para as mil dores do mundo nem sempre feliz, nem sempre justo, para onde me trouxeste sem nunca me abandonar.

És uma companheira de viagem que me acompanha para onde quer que vá.

És a minha consciência, porque ma deste, e quem mais me provoca e desafia.

Hoje sou eu, quem tu nunca foste. Hoje sou eu, única e individual, sonho o meu mundo e concretizo os meus ideais. Hoje sou eu, mas nunca só. E nunca o seria, sem ter sido tu, sem ser nós. Porque todos os dias sou mais qualquer coisa, dás-me mais um pouco e devolvo-te cada vez mais, para sermos todos os dias maiores.

Imaterial, indescritível, inigualável e insubstituível. Uma mãe e uma filha. Unidas no género e na gestação, vivendo em conjunto e em associação. Um bom professor não tem que não discípulos dissidentes.* A nova geração será, serei, indubitavelmente diferente, alegadamente melhor. Mas muito do que direi às minhas filhas será a voz da minha mãe a falar-me, a falar-lhes, através do tempo das nossas vidas.

Imaterial, indescritível, inigualável e insubstituível. O Amor de uma Mãe. O Amor de uma Filha.

* "A good teacher can only have dissident pupils." Erwin Chargaff (Bioquímico Austríaco que emigrou para os EUA durante a 2a Grande Guerra Mundial)

terça-feira, novembro 13, 2007

Os ciumes...


Existem namorados ciumentos dos amigos das namoradas, filhos com ciúmes dos pais, pais com ciúmes dos amigos dos filhos, amigos ciumentos do tempo que os amigos não lhes dão...
O ciúme faz parte da nossa natureza. É uma manifestação e uma consequência do acto de "gostar" de outrém.

Podemos definirmo-nos como não sendo "muito ciumentos" mas somo-lo sempre um pouco, certo? Quem nunca sentiu que a atenção de quem ama está a ser desviada para outras pessoas? Não é preciso pôr em causa a fidelidade emocional da pessoa em questão - ciumentos não são só aqueles paranóicos que vêem a namorada olhar para um rapaz e assumem que ela os vai deixar por ele. Basta que durante algum tempo sintamos que quem amamos está demasiado distraído com o que o rodeia, com quem o rodeia.

E ter ciúmes é sempre, ou de todo, mau? Eu cá sempre disse que odiava pessoas ciumentas. Mas acho que queria dizer "controladoras" ou "inseguras", aquele tipo de pessoas que restringe os actos de quem ama de forma a não ter de pôr à prova a sua capacidade de saber quem é e o que vale. Porque um ciúme "moderado" acaba por ser um óptimo sinal de comunicação não verbal entre duas pessoas. Uma forma de sinalizar que existe uma carência ou um excesso de afecto. Uma forma de dar valor.

E quando é que o ciúme deixa de ser saudável? Quando uma das duas pessoas na relação, ou ambas, são monopolizadas. Quando deixam de ter espaço para crescer com outras pessoas, acabando por atrofiar e ser menos ricas em interacções com outros. Quando a insegurança de um provoca o isolamento do outro. Ou em qualquer ponto no tempo em que isto comece a acontecer como é óbvio.

E agora a fórmula matemática do ciúme:
1. Todas as pessoas que rodeiam um indivíduo A têm um potencial de atracção X (que pode ser positivo ou negativo)
2. Se essas pessoas se sentirem atraídas pelo indivíduo A então o potencial passa para X elevado a 10 (com o menos fora do parêntisis, caso seja uma atracção negativa, para se manter negativo =p)
3. Se essas pessoas se sentirem atraídas pelo indivíduo A e este souber, então o potencial passa para X elevado a 100!

Podemos ter ciúmes do tempo que quem amamos dedica aos outros, da profundidade da relação que estabelece com os outros ou de eventualmente sermos substituídos por outros. Ter ciúmes vamos ter sempre. Solução? Talvez só ir analisando as situações para saber quando intervir - nada de assassinatos ou assim, se conversar não resolver o problema então há que decidir se a causa dos ciúmes é real e suficiente para desistir ou se é real e dá para lutar ou ainda se não existe. E é essencial que nos apercebamos de quando aquela pessoa está simplesmente a construir-se a si própria de forma independente de nós, tornando-se ainda mais interessante.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Trabalhar muito...


Não me custa trabalhar. A sério que não. Nos últimos anos, não me lembro de ter de facto trabalhado em algo de que não gostasse. É uma sensação incrível adquirir conhecimento, construir qualquer coisa! A excelência numa matéria ou numa capacidade é tão boa de sentir!...

Mas parte da diversão é poder mostrar. Quer para nos capacitarmos de que sabemos (e sabe bem saber!), quer porque gostávamos que os outros se entusiasmassem como nós.

Portanto frustrante é não podermos mostrá-lo. Quer seja porque outros nos impõem as suas falhas ou nos atacam com as suas próprias frustrações (desde amigas que o fazem sem intenção a professores intransigentes e pouco razoáveis), quer seja porque nós próprios falhámos, muitas vezes somos impedidos de mostrar que sabemos, de partilhar o entusiasmo que temos e de ser reconhecidos pelo trabalho que tivemos.

Não me custa trabalhar. Aquilo de que abdico a favor deste objectivo é muito mas está, por assim dizer, contabilizado. Mas custa muito ver uma parte importante desse trabalho desaparecer. Custa muito trabalhar e não mostrar a ninguém. É injusto que não nos reconheçam o direito de ter algo a dizer.

É como pôr todo o empenho em escrever um livro e nunca o publicar. Soube bem e construiu-nos mas nunca mais ninguém o leu. =/